A história da contabilidade não tem um ponto de partida exato. Essa é uma história milenar, quase tão antiga quanto a própria civilização. Afinal, desde que os seres humanos começaram a ser dedicar à agricultura e formaram as primeiras cidades, a contabilidade começou a surgir.
Desde então, essa atividade permaneceu relevante para todas as sociedades, evoluindo junto com elas. Dessa forma, a contabilidade permanece relevante nos dias atuais, passando pelas revoluções tecnológicas, como outras profissões.
Fazendo esse resgate do passado — e pensando na situação atual — que reflexões podemos fazer sobre o papel do contador para os clientes? O que isso nos diz sobre as transformações que a contabilidade vem passando (e ainda vai passar) nos próximos anos?
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O surgimento da contabilidade como ciência e profissão
Como dissemos, os primeiros contabilistas surgiram ainda na antigiuidade, nas civilizações mesopotâmicas, no atual Oriente Médio. Os comerciantes começaram registrando as trocas de bens e serviços, depois desenvolveram registros de cobrança de impostos — ainda muito simples. É possível encontrar registros contábeis também na Babilônia e Egito Antigo.
Esses registros foram se tornando mais complexos, com o passar dos séculos. Na República Romana, por exemplo, por volta de 200 a.C, já existiam controles de caixa, rendas e lucros.
Mas na Idade Média a história da contabilidade iniciou um novo capítulo, firmando-se como ciência e profissão. É nessa época que o frei Luca Pacioli, considerado o pai da contabilidade, publica sua célebre obra sobre o método das “partidas dobradas”. Basicamente, o frei criou a ideia de que cada transação deve ser registrada como débito e crédito.
Conforme os escritos de Pacioli e de outros religiosos ganham relevância — e o método das partidas dobradas ganha o mundo — surge aquilo que chamamos hoje de Escola Italiana (ou Europeia) nas ciências contábeis. A Escola Italiana tem uma grande relevância por representar a transformação da contabilidade em ciência, abrindo espaço para vários outros escritores e estudiosos importantes.
Durante séculos, essa foi a principal doutrina dentro das ciências contábeis. Mas, nas últimas décadas, surgiu também a Escola Norte-Americana. Ela representa um novo paradigma, mais centrado nos usuários e na prática contábil — saindo um pouco das questões téoricas.
Isso nos leva à história da contabilidade no Brasil, um país que sofreu influência de ambas as escolas, em diferentes períodos.
A história da contabilidade no Brasil
A verdade é que a história da contabilidade no Brasil começa no início da colonização, com os primeiros armazéns alfandegários. Em 1549, Gaspar Lamego é nomeado o responsável pelos armazéns pela Coroa Portuguesa — sendo considerado o primeiro contador do Brasil.
Na medida em que as atividades coloniais ganham volume, surge também a necessidade de um aparato fiscal mais robusto para garantir os lucros da Coroa. Portugal cria seu Erário Régio em 1761, substituindo a antiga Casa de Contos que administrava as finanças do reino. Ele era composto por inspetores, procuradores e contadores — que eram responsáveis por arrecadar e administrar os recursos de Portugal e suas colônias.
Em 1808, com a vinda da família real para o Rio de Janeiro — e a elevação do Brasil ao título de Reino Unido com Portugal —, temos o primeiro Erário Régio em solo nacional. Com ele, as primeiras escriturações e relatórios contábeis genuinamente brasileiras.
Após a Independência, o Brasil também separa suas finanças das portuguesas. Com isso, em 1870, a contabilidade recebe sua primeira regulamentação e a Associação dos Guarda-Livros da Corte é reconhecida oficialmente. Isso faz da contabilidade a primeira profissão liberal que é devidamente regulamentada no Brasil.
Dos guarda-livros aos contadores
Por muito tempo, os contadores também eram conhecidos como “guarda-livros” (que vem do inglês bookkeeper). Nessa época, os profissionais da categoria eram vistos como executores de tarefas, que mantinham registros contábeis impecáveis em extensos livros-caixa.
Nesse contexto, ao longo do século XX, a contabilidade se desenvolveu bastante no Brasil. Em 1931, o Decreto nº 20.158 organizou o ensino comercial, criando os cursos de contabilidade, e regulamentou a profissão. O Decreto previa dois tipos de profissionais na área: o guarda-livros, com dois anos de formação, e o perito-contador, que estudava por três anos. 15 anos depois, o Conselho Federal de Contabilidade era criado para fiscalizar a atividade contábil no Brasil.
Nas décadas seguintes, o termo “guarda-livros” começou a cair em desuso. Conforme mais empresas estadunidenses se instalavam no Brasil, trazendo a sua Escola Norte-Americana de contabilidade consigo, os profissionais deixavam de ser executores de registros e passavam a atuar de forma mais estratégica.
A partir dos anos 1970, com a publicação do livro “Manual da Contabilidade das Sociedades por Ações” e com a aprovação da Lei nº 6.404, que versava sobre as sociedades por ações, a Escola Norte-Americana passa a predominar no Brasil. Os registros ainda eram escritos, mas os contadores não eram mais guarda-livros.
A inteligência artificial na contabilidade e suas aplicações práticas
A contabilidade brasileira no presente e futuro
No novo milênio, conforme a tecnologia e o acesso à Internet se tornaram mais acessíveis, os escritórios de contabilidade também incorporaram várias dessas inovações. Esse movimento foi acompanhado, ainda que lentamente, pelo poder público, que começou a digitalizar seus processos. A criação das notas fiscais eletrônicas (NFe), em 2006, é um marco nessa história, assim como o eSocial, lançado em 2014.
Essa revolução tecnológica trouxe consigo uma transformação nos papéis do contador, que se torna ainda mais estratégico, e do escritório de contabilidade, que passa a ser visto como uma empresa. Ou seja, ele precisa ser administrado de forma mais profissional, como explica a fundadora do Confi e contadora Daniella Novak.
Daniella conta que a empresa contábil de sua família tem 49 anos de atividade, mas ela iniciou sua trajetória quando a transformação digital já estavam revolucionando a contabilidade. Com isso, ela trouxe diversas mudanças para a gestão da empresa.
“Eu comecei a olhar o negócio de maneira mais gerencial”, afirma Daniella. Ela explica que buscou estabelecer processos, padronizando a execução dos serviços, além de trazer um novo olhar para a gestão da equipe. Isso é importante porque o perfil dos contadores mudou: os profissionais não permanecem mais na empresa por 15 ou 20 anos a fio.
Isso nos remete a uma das principais questões da contabilidade, nos dias atuais: a gestão do conhecimento. Durante muito tempo, apenas alguns colaboradores sabiam o que deveria ser feito para cada cliente — como guardiões daquele processo. Mas se os colaboradores saem das empresas em menos tempo, confiar os processos a uma ou outra pessoa pode se tornar um grande problema.
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Surgimento de novas tecnologias
Sendo assim, Daniella conta que buscou mapear todos os processos e encontrar soluções tecnológicas que auxiliassem na gestão da equipe. É a partir disso que surgiu o sistema de gestão de tarefas contábeis Confi, que permitiu gerenciar toda sua empresa contábil com o auxílio de inteligência artificial. Com a automatização das tarefas repetitivas, os contadores podem se concentrar nas tarefas onde seu conhecimento é realmente importante.
“Isso nos manteve relevantes no mercado contábil, que está cada vez mais competitivo. As empresas que continuaram com os métodos tradicionais estão tendo dificuldades para se adaptar, tanto com a nova geração de colaboradores,que não se mantém por muito tempo nas empresas, quanto com a competitividade imposta pelas contabilidades online”.
As novas tecnologias, como as que permitem analisar grandes volumes de dados ou delegar tarefas à inteligência artificial, são a próxima fronteira de evolução da contabilidade. Porém, é importante refletir que elas não são uma ameaça para a contabilidade: elas apenas reforçam o papel estratégico do contador. Isso significa que os profissionais (e os escritórios) terão que se especializar nas atividades que somente os humanos conseguem fazer.
Os guarda-livros, por mais importantes que tenham sido, ficaram no passa